Você sabe como é feita a adaptação de livros didáticos de Química para o braille?
O conhecimento do Sistema Braille costuma ser escasso e muitas vezes se limita ao alfabeto, números e pontuações. Mas, apesar disso, temos uma ampla simbologia matemática e química que precisa ser expressa. Encontrar conhecimento do sistema braille e de Química é ainda mais difícil.
É indispensável que o transcritor braille tenha domínio da área química e que conheça a correta aplicação da simbologia braille referente a esta área. Pois de outra forma, como representar o número atômico e de massa de um elemento se o transcritor não souber a representação química (que o número atômico está na parte inferior e que o número de massa está na parte superior)? Como representar uma ligação dupla se o transcritor acreditar que se trata de um sinal de igual? Como fazer uma descrição de imagem se você não tiver conhecimento técnico suficiente para saber a importância do que precisa ser descrito?
Ao longo desses 10 anos como transcritora braille, vi uma descrição de um experimento de condutibilidade elétrica por uma pessoa que não era da área. O objetivo do experimento era mostrar a quantidade de lâmpadas que acendiam ao se testar determinados materiais. Na descrição, havia apenas a informação de como eram os materiais e que tinham algumas lâmpadas. Essa informação era irrelevante e o fundamental não foi descrito (a quantidade de lâmpadas acesas para o estudante poder concluir quem eram os materiais bons/maus condutores de eletricidade).
Aliando o conhecimento químico ao da grafia braille, o transcritor precisa ainda dominar o programa Braille Fácil, que é o mais utilizado no Brasil por ser gratuito. Desse modo, a transcrição acaba não sendo difícil, mas trabalhosa, principalmente quando se trata de estruturas químicas.
Transcrição do Butanoato de butila
Nesse exemplo, em que cada símbolo precisou ser inserido manualmente no programa, ainda teve o problema da estrutura ocupar mais espaço que o tamanho da folha, precisando ser fragmentada através da “translinearização”. Saber consultar a grafia é relativamente fácil, mas demanda tempo, inclusive para aplicar a simbologia.
Na transcrição dos livros de Química para o braille procura-se manter a fidelidade do livro original: adaptação de tabelas, quadros e gráficos, etc. Caso não seja possível fazer essas adaptações, as informações são linearizadas e as imagens são descritas.
Um livro de Química Orgânica com cerca de 300 páginas, por exemplo, pode chegar a ter 2400 páginas em braille, dividido em 20 volumes. Esse trabalho pode levar meses para ser concluído e quanto mais experiência e conhecimento técnico o transcritor possuir, mais rápido será o trabalho e de melhor qualidade.
Todos os livros devem ser revisados por um profissional cego que garanta a qualidade e fidelidade da transcrição.
A impressão desses livros é feita em papel com gramatura entre 120 e 180 g, no formato máximo 28×31 cm (em braille: 40 caracteres por 28 linhas). Isso porque há adaptações que precisam de muito espaço, como tabelas, equações químicas, gráficos, entre outros) e
Só uma equipe experiente, com conhecimento técnico, ferramentas e processos adequados poderá oferecer um material, de fato, inclusivo e de qualidade, fazendo com que a pessoa com deficiência visual tenha seus direitos assegurados.
A grafia Química braille para uso no Brasil está disponível no site do MEC. (Acesse aqui).
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Karina da Silva Cavalcanti
Transcritora braille com mais de 10 anos de experiência, Professora de Química da Educação Básica, Pedagoga, Pós-graduada em Educação Especial na área de Deficiência Visual – UNESP e Especialista da Comissão Assessora em Adaptação de Provas e Itens para Exames e Avaliações da Educação Básica (DAEB) – INEP
Débora diz
como posso acessar um trecho de química em braille?